A MÃE INTERIOR

Na mitologia grega, a deusa Deméter personifica o arquétipo da mãe. Conhecida como Ceres na mitologia romana, a deusa do cereal é a mãe receptiva, amorosa e nutridora. É a deusa que encoraja, motiva, acolhe, persevera, cuida, afaga, abraça, doa, alimenta e compartilha com ternura, altruísmo e profundo amor maternal.

Deméter é a mãe de Perséfone, jovem que foi raptada por Hades, o deus do submundo. Tamanha foi a tristeza de Deméter ao saber do paradeiro da sua filha, que todas as plantas secaram, num inverno frio, sem vida, sem alimento…

Com a persistência maternal, Deméter felizmente conseguiu resgatar Perséfone. Contudo, como a filha havia comido sementes de romã no inferno, Perséfone teve que ficar metade do ano com Hades, vivendo como a rainha e guia dos mortos. E durante a primavera, Perséfone floresce com a mãe Deméter, num verão quente e sorridente por belos jardins e terras floridas.

O arquétipo de Deméter está presente em homens e mulheres que se doam através da nutrição física, psicológica ou espiritual. Especialmente nas mulheres, Deméter desperta o instinto maternal, a generosidade, a delicadeza, o amor pelo cuidado, a nutrição, a educação, a ajuda, o conforto, o altruísmo, a entrega.

O instinto maternal não é restrito a ser mãe biológica. A expressão do amor maternal transcende o nível físico, transcende a espécie humana e abarca todas as possibilidades de afeto, carinho, cuidado e zelo.
A jovem que alimenta o seu animal de estimação como uma mãe zelosa. A filha que cuida da sua mãe anciã com a mesma ternura que outrora fora cuidada.

A mulher que se entrega ao trabalho de parto com coragem e força feminina. A mãe que olha nos olhos brilhantes do seu bebê pela primeira vez. A mãe de coração, que recebe nos braços o seu filho adotado como um presente divino. A professora que ensina com paciência e afeto. A cozinheira que nutre com alimento e amor. A jardineira que floresce abraços e sorrisos perfumados.

A cuidadora que trabalha por vocação, a amiga com abraço maternal, a irmã sempre presente e disponível, a conselheira que educa com o coração, a voluntária que se doa de corpo e alma, a terapeuta que escuta com empatia e acolhe com atenção.

São todas mulheres-deusas-Deméter. Mulheres encantadoras, dedicadas e amorosas que personificam a deusa mãe. São mulheres que foram tocadas pelo arquétipo da Deméter. Tendo ou não filhos, são maternais.

Talvez elas tenham tido um grande exemplo de mãe, talvez outra mulher tenha sido a sua inspiração, ou ainda, tenham aprendido por desejo de receber o afeto. Seja como for, nelas há a mãe interior. Em todo homem, em toda mulher, habita uma mãe interior.

A mãe interior é a nossa ponte para o amor incondicional. A pureza deste amor quer entregar o melhor ao outro. Contudo, é essencial lembrar que podemos nos servir de Deméter a nosso próprio favor também.
Aprender a cuidar de si mesma. Aprender a amar a si mesma. Acreditar que merece ser feliz. Buscar o que é bom, belo, verdadeiro, saudável e elevado.

Ser mãe de si mesma. Cuidar-se, amar-se, ouvir-se, tocar-se, abraçar-se, nutrir-se, equilibrar-se, encontrar-se, criar-se.

Que a sua mãe interior permita-se ser plena e reconheça a dança das múltiplas deusas. Cada deusa revela um aspecto especial para a mulher. Em especial, a Deméter nos nutre de amor e carinho maternal. Que possamos ser mães de nós mesmas, que possamos cuidar dos outros tão bem quanto cuidamos de nós.

Que a deusa brilhe amor em você!

Gabriele Ribas
Psicoterapeuta Transpessoal
cadernodagabi@gmail.com