A pequena sereia – a história original dos contos de fadas
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Estátua da Pequena Sereia, Kopenhagen, 2016.
Hoje estou na terra de um grande escritor: Hans Christian Andersen, que nasceu no dia 2 de Abril de 1805, na Dinamarca. Você sabia que no dia do seu aniversário é comemorado, em sua homenagem, o dia internacional do livro infantil? Ele é autor de vários contos de fadas, por exemplo: O patinho feio, O soldadinho de chumbo, A princesa e a ervilha, A polegarzinha, A roupa nova do imperador e a Pequena sereia.
Hans Christian Andersen, com 30 anos de idade, escreveu o seu primeiro conto de fadas. Ele tornou-se um dos escritores mais populares da literatura infantil na Europa.
Faleceu em 6 de agosto de 1875, em Kopenhagen. Um dos símbolos da cidade é a pequena sereia, a qual ganhou uma estátua que é dos principais pontos turísticos da bela cidade dinamarquesa.
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Confesso que para mim foi uma surpresa assombrosa descobrir que o doce conto da Pequena Sereia, que conheci quando criança, nos filmes da Disney, é bem diferente do original.
Em ambos a sereia apaixona-se pelo príncipe e deseja tornar-se humana. Ela pede à bruxa do mar uma poção para isto.
Contudo, no conto original, a pequena sofre uma dolorosa decepção amorosa, pois o príncipe se casa com outra mulher. 🙁 Para voltar a ser sereia, ela teria que matar o príncipe, diz a bruxa. 🙁 Mas a jovem se recusa a isso, preferindo ela mesma, morrer. 🙁
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Quem quiser mais detalhes, pode pesquisar o conto original da pequena sereia de Hans Christian Andersen.
Apesar de eu ter achado uma história muito triste, dolorosa e sofrida, encontrei uma luz no fim do túnel do conto. Incansável otimista que sou, pensei assim: Sinto muito por tanto que a sereia sofreu, mas ao menos ela tornou-se humana, e assim, com a sua morte, ganhou uma alma imortal. Se continuasse sereia, sua morte significaria tornar-se espuma do mar (conforme contou a avó da pequena sereia).
A pequena era mais do que uma sereia, ela conheceu as dores e encantos de ser humana, e por isso, ganhou uma alma.
Ter uma alma imortal tem o seu valor, não é mesmo?
Embora eu tenha ficado “incomodada” com o conto original, acredito que foi terapêutico fazer uma releitura pessoal do conto. Talvez essa seja uma das grandes mágicas dos contos de fadas. Eles recebem uma nova nuance de acordo com o nosso olhar. Podemos olhá-los de vários ângulos, e no final das contas, o que realmente vemos, é o reflexo da nossa luz e da nossa sombra, em suma, da nossa humanidade.
E agora… Para acalmar o meu coração que ficou angustiado com a decepção da sereiazinha, convidei uma contribuição especial da minha amiga, a psicóloga Juliana Ruda, que é especialista em Psicologia Junguiana e autoridade no assunto contos de fadas. Fiz algumas perguntas para ela, e você confere as respostas abaixo:
Ju, por que os contos de fadas originais são muitas vezes tão “assustadores” e parecem muito mais contos de adultos do que de crianças?
R: Olá Gabi e leitores do Caderno da Gabi! Os Contos de Fadas retratam o que chamamos de zeitgeist da época, ou como é conhecido também, espírito do tempo. Isso quer dizer que eles se constroem no tempo e de acordo com o que é mais presente em dada época. Na sua origem, quando os contos começaram a ser compartilhados durante o trabalho agrícola e/ou em volta da fogueira, não havia a fase da vida que hoje conhecemos por infância. As crianças estavam incluídas no ambiente adulto, por isso a impressão dos contos serem mais adultos, porque, de fato, eram. Naquele período temas como canibalismo, morte, estupro, incesto, inveja, fome, eram comuns. Embora hoje em dia continuemos a ter essas temáticas em nosso dia a dia seja em menor ou maior intensidade, os contos estão abrindo espaço para novos horizontes, por exemplo, as personagens femininas têm ganhado cada vez mais força, isso porque, o zeitgeist da época é esse. É importante, ainda, termos em mente que os contos de fadas são culturais e transitam no tempo, podemos conhecer uma versão de um conto, mas em outro país encontrarmos uma versão diferente, contudo, a essência do enredo permanece a mesma.
Qual a importância dos contos de fadas para o desenvolvimento humano?
R: Eu diria que é importantíssima! Nossa vida é tecida através das histórias, nós somos histórias, nos somos contos de fadas! Talvez isso pode parecer estranho em um primeiro momento. Até porque, infelizmente, passamos a compreender os contos de fadas como histórias imaginárias e “fora da realidade”, quando não é bem assim. Pelo olhar da Psicologia Junguiana os contos espelham a psique humana, isto é, eles são o nosso próprio reflexo. Encontramos nos contos temas universais que vivenciamos no decorrer do nosso conto da vida, como: amor, medo, bem x mal, ansiedade, relacionamentos, nascimento, morte, entre outros. Ao ler um conto de fadas, uma pessoa, independente da idade, seja ela criança ou adulta, será tocada de alguma forma pelas linhas mágicas dessas histórias, se identificará com esse ou aquele personagem e assim por diante. Podemos ter um conto que nos acompanhará por toda a nossa vida ou ter vários contos que conversarão conosco no decorrer dela. Os contos de fadas são repletos de imagens e as imagens despertam emoções em nós e é por meio das emoções que nos conhecemos melhor e nos desenvolvemos como seres humanos.
Que elementos simbólicos podemos encontrar no conto da pequena sereia?
R: O conto da Pequena Sereia é repleto de simbolismos! Poderíamos ficar um longo tempo aqui dialogando sobre eles. Ao analisar um conto é interessante nos atermos aos personagens e as temáticas ali presentes, por exemplo. Encontramos nesse conto a Sereia, suas irmãs, a bruxa do mar, o príncipe, a mulher com quem ele se casa e até mesmo o mar pode ser considerado um personagem. De tema, o que se sobressai, em um primeiro momento, é o almejar, desejar, aquilo que queríamos ter, mas não podemos até então. É muito comum nos contos de fadas o herói ou a heroína passar por provas e desafios, tendo que se sacrificar. E vemos isso na Pequena Sereia, ela conquistou aquilo que desejava, mas com um preço. E não nos deparamos com situações assim na nossa vida? Ao escolher um caminho, estamos, consciente ou inconscientemente, deixando outro de lado. A Sereia foi corajosa e determinada, atingindo seu objetivo: tornar-se humana. Ao vivenciar isso, nem tudo foi o que ela imaginava, o véu da ilusão caiu, e o príncipe preferiu outra. Mas, apesar disso, ela escolheu sacrificar a si mesma do que sacrificá-lo. Uma atitude muito bonita para uns, já, para outros, pode parecer tolice. Ao morrer ela, na verdade, renasceu e transcendeu, eternizando-se. Ela amou e amou intensamente, o amor em sua essência é puro e genuíno, um tema universal. Às vezes, ao renunciar a nós mesmos é que vamos de encontro a nós mesmos. Não podemos também deixar de lado o simbolismo do mar. O mar é água, pode ser calmo e ao mesmo tempo turbulento; a água é um fio condutor, símbolo da transformação, purificação, sendo utilizada no batismo, por exemplo. A água também pode representar o materno. A Pequena Sereia nasceu no mar e para lá retornou. Seu retorno não foi da mesma maneira, ela voltou diferente, transformada, integrando-se e aceitando a si mesma.
Aqui um espaço livre para escrever o que desejar sobre os contos de fadas e a psicologia junguiana.
R: Gostaria de deixar aqui o convite para quem queira se aventurar pelas mais variadas florestas dos contos de fadas. Essas histórias além de encantadoras são preciosas e nos auxiliam no (re)encontro com nós mesmos, utilizando uma frase junguiana, eles nos auxiliam “a tornarmo-nos de fato quem nós somos”. Os contos são magia, são emoção, são paixão, são vida, são pulsar, são fluir, são transbordar. O mais belo dessas histórias e do olhar junguiano para elas é que cada pessoa irá simbolizá-las a sua maneira. Que tal agora, você, caro leitor, pensar em como simbolizaria o conto A Pequena Sereia? O que ele lhe diz? Que emoção desperta?
Ju, o Caderno da Gabi agradece imensamente a sua linda contribuição!
Ah, gente, depois dessa rica explanação da Ju, senti um maior entendimento e me percebi mais próxima dos contos de fadas! Espero que vocês também tenham gostado, e fica o convite para fazerem as suas próprias observações!
Com carinho,
Gabi
Gabriele Ribas é escritora, psicoterapeuta, arteterapeuta e coach.
Especialista em Psicologia Transpessoal. Mestre em saúde.
Facilitadora de Escrita Terapêutica.
Contato: cadernodagabi@gmail.com
Juliana Ruda é Psicóloga de Orientação Junguiana (CRP -08/18575)
Especialização em Psicologia Analítica. Atua em Curitiba-PR.
É facilitadora dos Grupos de Estudos: Poética da Alma e O Despertar dos Contos de Fadas, ambos com enfoque na Psicologia Junguiana.
Além de eterna aventureira dos Contos de Fadas!
E-mail: psicologa.julianaruda@gmail.com
Fanpage Profissional: https://www.facebook.com/PsicologaJulianaRuda/
Colunista da Coluna “Um Conto de Cada Vez”: http://opsicologoonline.com.br/category/colunas/um-conto-de-cada-vez-por-juliana-ruda/