Percebo que escrever me ajuda a me observar. Quando escrevo, organizo e visualizo minhas ideias e pensamentos. Escrevo diários desde meus onze anos de idade, então é uma atividade muito prazerosa e familiar. No entanto, posso notar que essa escrita é sempre nova e posso observar aspectos que eu ainda não tinha percebido, ou mesmo rever atitudes e comportamentos, com um novo olhar. 

É como se o momento da escrita fosse uma pausa, um treinamento para refinar minha atenção, observação e reflexão, e isso reverbera ao longo do meu dia, em momentos que não estou escrevendo, mas ainda assim, me observando e refletindo. 

“A constante atenção no que quer que estamos fazendo é até mais importante do que a meditação formal, pois quando estamos atentos, nossa confiança e nosso equilíbrio aumentam.” Tarthang Tulku 

Convite

Que tal reservar um momento do seu dia para se encontrar com você, se observar, e escrever? Você pode escrever, por exemplo, como está se sentindo, o que sente que precisa nesse momento, o que deseja… Para facilitar, pode utilizar também os exercícios de escrita terapêutica guiada dos cadernos terapêuticos.

Enquanto escrevo minhas emoções e sentimentos, percebo que me identifico com elas. Mas, tão logo elas são transportadas para fora, tenho a sensação de que estou me desidentificando delas também, como se eu pudesse olhar “de fora” o que estou sentindo. O resultado é alívio, conforto e mais clareza. 

Por um momento deixo de ser aquela que sofreu e me transformo naquela que escreve sobre o que sofreu. Percebo que está nas minhas mãos a forma como escolho como quero contar a minha história. 

Para refletir: como você está escolhendo contar a sua história? 

Depois de um tempo, quando releio o que escrevi, muitas vezes até me surpreendo: Nossa, fui eu que escrevi isso? Não lembrava. Naquele momento eu estava com aquele sentimento/sensação, mas agora, percebo diferente, é um novo momento. Ou ainda:  bem, continuo sentindo isso que escrevi. Esses são alguns pensamentos que podem passar na minha cabeça: de surpresa, empatia ou mesmo curiosidade sobre o que escrevi. 

Sugestão: Se você também cultiva o hábito da escrita, experimente reler o que escreveu. Observe como se sente e o que percebe sobre você. 

No livro o Ato da Vontade, Roberto Assagioli, psiquiatra italiano, criador da Psicossíntese, discorre sobre o exercício deliberado de desidentificação e de autoidentificação. Através dele, ganhamos a liberdade e o poder de escolha para estarmos identificados com ou nos desidentificarmos de qualquer aspecto de nossa personalidade, conforme o que nos pareça mais apropriado em cada situação. Assim, podemos aprender a dominar, dirigir e utilizar todos os elementos e aspectos de nossa personalidade, numa síntese inclusiva e harmoniosa. Por isso, esse exercício é considerado básico na Psicossíntese. 

Dessa forma o lembrete é: EU POSSO ESCOLHER. Sim, posso escolher onde desejo focar minha atenção, posso escolher minha intenção e como conduzir a minha ação. 

A nossa vida, e a nossa escrita… está em nossas mãos! Escrever ajuda a visualizar nossos pensamentos, expressar nossas emoções, refletir sobre nossa vida e motivar novas atitudes. Essa auto-observação é como se fosse um mapa do nosso território interior. Sim, podemos nos guiar através do universo interior, na direção que escolhemos trilhar. 

O que você está escolhendo ser e fazer agora? 

Para complementar essa reflexão, vou deixar aqui um vídeo em que comento sobre o poder da auto-observação e compartilho um breve guia de auto-observação para facilitar nossa jornada de autoconhecimento e autodescoberta:

Escrever é uma forma de se escutar, se acolher, se observar e refletir sobre seu passado, presente e futuro. Aprofundo sobre esse tema no Caderno do Eu.

Nessa sintonia, finalizo esse texto com uma das minhas queridas citações  do Caderno do Eu: 

Que possamos ser autores da nossa vida, escolhendo como queremos escrever a nossa história. Muitas vezes, não podemos mudar os fatos, mas podemos mudar a forma de encará-los, e mais importante: podemos nos transformar positivamente diante das  mais diversas experiências, sejam boas ou ruins – isso depende de como as vemos. Assim, sempre podemos escolher como vamos sentir, pensar e agir. 

Gabriele Ribas